PARANGOLIXO


João Pedro Zuccolotto, Laísa Macêdo Brandão, Mark Tom Sawyer, Monica Pereira Lourenço, Taciana Alexsandra Da Silva, Taisa Maria Laviani



Os Parangolés, do artista brasileiro Hélio Oiticica, ficaram famosos por tornar o artista parte da sua obra e possibilitar aos espectadores uma participação ativa na performance.

Trata-se de uma expressão artística envolvendo uma espécie de capa - com textos, fotos e cores - que serve como uma obra-ação-multissensorial e dá vida à obra em uma espécie de cartografia social.

Parafraseando Oiticica, a performance ParangoLixo foi realizada em São João del-Rei/MG, no dia 29 de outubro de 2021, por discentes do Programa Interdepartamental de Pós Graduação em Artes, Urbanidades e Sustentabilidade (PIPAUS) da UFSJ.

Idealizado com o objetivo de sensibilizar, chocar e chamar a atenção da população para a quantidade de lixo produzida, o ParangoLixo foi realizado em locais públicos, com a utilização de uma roupa de confecção própria para armazenar de forma visível todo o lixo coletado pelo chão da cidade.

A produção de lixo tem alcançado índices alarmantes. O plástico, por exemplo, é um dos materiais descartados que mais agride a vida na terra e nos oceanos.

Em 2020, segundo dados da Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública, o volume de plástico descartado no país aumentou 15% a mais que no ano anterior.

O relatório “Um oceano livre de plástico – desafios para reduzir a poluição marinha no Brasil”, apontou que 500 bilhões de itens de plástico de uso único são consumidos anualmente.

A cada ano, oito milhões de toneladas de plástico vão parar nas águas dos oceanos, sendo esse material o responsável por 100 mil mortes por ano de animais marinhos, conforme afirma o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.

Durante a caminhada, e à medida que o lixo estava sendo recolhido, pôde-se notar que grande parte do lixo descartado nas ruas eram materiais plásticos.

Mesmo com dados e pesquisas que apontam o quanto o plástico é nocivo, a produção capitalista desenfreada ocorre como se estivesse em total desconhecimento dos danos ambientais.

De certo, se apenas recolhêssemos o lixo ao longo do curto caminho não geraríamos impacto algum no público que presenciara.

Ao contrário disso, durante a performance, à medida que o artista, vestindo o ParangoLixo, pegava e descartava os materiais não biodegradáveis, o espectador passou a ser o protagonista, não apenas observando, mas participando do ato silencioso de protesto e alerta.

O ParangoLixo tornou-se, então, um ato de “fé no poder inefável da arte” (RESTANY, 1999, p.15).

parangolé; lixo; plástico; performance.